terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Abandono Escolar e a Desqualificação: Como Combater esta Realidade?


O Abandono Escolar e a Desqualificação: Como Combater esta Realidade?

Agora que se inicia mais um ano lectivo, um fenómeno volta a ser alvo de grande preocupação por parte da população portuguesa, sendo este o abandono escolar. Este fenómeno representa um problema massivo com o qual o nosso país em geral, e o sistema de ensino, em particular, se têm confrontado. Tendo em atenção as graves consequências desta situação para o nosso país, importa investigar na tentativa de compreender as razões que se encontram na origem do abandono escolar. Que motivos levam os jovens estudantes a desistir do seu percurso escolar? Serão motivos pessoais? Sociais? Familiares? Económicos? Aqui surge um pequeno ensaio orientado para a compreensão da “crise” escolar que afecta de forma alarmante a nossa sociedade e o seu futuro, permitindo, desta forma, reflectir sobre potenciais soluções para este problema de ordem nacional.

Antes de mais, o abandono escolar em Portugal e na Europa em geral:

O abandono escolar é um fenómeno para o qual Portugal se destaca em relação aos restantes países da Europa. Cerca de 3.500.000 dos actuais trabalhadores têm um nível de escolaridade inferior ao ensino secundário, dos quais 2.600.000 inferior ao 9.º ano. Cerca de 485.000 jovens entre os 18 e os 24 anos (45% do total) estão hoje a trabalhar sem terem concluído o 12º ano, 266.000 dos quais não chegaram a concluir o 9.º ano. Também se destacam assimetrias a nível nacional, sendo que existem diferenças nítidas relativamente ao rendimento escolar no litoral e no interior do país, predominando uma taxa de 17.4% de analfabetismo nas regiões da Beira Interior Sul. Talvez esteja na hora de impulsionar mudanças nas políticas educativas de forma a combater o abandono escolar e a desqualificação decorrente deste fenómeno.

Que factores levam os jovens portugueses a abandonar as salas de aula?

É verdade que um factor predominante no abandono escolar consiste no desejo de autonomia financeira que os jovens acabam por desenvolver, nomeadamente por nos encontrarmos numa sociedade altamente consumista, levando-os a optar por iniciar uma vida activa precoce em detrimento da busca por uma maior e melhor aquisição de competências e qualificações. Contudo, esta “desculpa” não se aplica a todos os casos, nem de forma exclusiva. Do meu ver, existem quatro agentes responsáveis por esta situação, uns com mais responsabilidade que outros, variando de caso para caso, sendo estes o próprio aluno, a escola, a família, bem como o mercado de trabalho.

O aluno pode ser tido como responsável na medida em que ele é agente de si próprio, das suas escolhas, actuando conforme as suas convicções e vontades, mas também de acordo com as suas características pessoais, cognitivas, emocionais e comportamentais. De facto, as dificuldades de aprendizagem do aluno ou ainda o seu baixo rendimento escolar podem estar na origem de um desânimo aprendido, promovendo pensamentos negativos, como por exemplo a incapacidade em obter bons resultados escolares, levando o aluno a optar por iniciar uma vida activa precoce. A falta de interesse pela escola, a desvalorização pelo sucesso académico, o isolamento social, a ansiedade ou ainda problemas depressivos podem também ser responsáveis da desistência do mundo do ensino pelos nossos estudantes. Por fim, os problemas comportamentais dos nossos alunos, tais como a agressividade, a delinquência, o consumo de álcool e de drogas, exercem também algum peso nas decisões e atitudes dos jovens estudantes. Pois, esses comportamentos acabam por ser alvo de punição no contexto de sala de aula e estimulam a “fuga” do aluno dos estabelecimentos de ensino.

O factor “família” também se destaca desde já como responsável pelo abandono escolar. O facto de pertencer a famílias de baixa qualificação, com baixos rendimentos e dificuldades de ordem financeira origina, muitas vezes, a saída prematura dos jovens do sistema de ensino. O padrão de família ao qual cada aluno pertence influencia inevitavelmente a trajectória escolar e laboral deste útlimo, uma vez que a consciencialização das implicações financeiras inerentes ao ingresso no ensino secundário e universitário promove a desistência do percurso escolar, de modo a não sobrecarregar os pais com despesas associadas à escolaridade dos filhos. Contudo, a influência familiar nas escolhas do aluno não se restringe aos recursos económicos, mas abrange também outras esferas, tais como as expectativas que os próprios pais alimentam sobre o presente e o futuro académico dos seus filhos. Baixas expectativas parentais encontram-se infelizmente associadas ao abandono escolar dos filhos, tais como práticas parentais desadequadas, sendo exemplos um suporte emocional deficiente ou ainda uma falta de envolvimento dos pais na vida escolar dos educandos.

No que concerne a responsabilidade do sistema de ensino para o abandono escolar, pode-se referir de antemão as dificuldades com que as escolas se deparam para motivar os alunos e desenvolver o seu interesse pela educação e formação. De facto, as expectativas e ambições dos jovens encontram-se cada vez mais afastadas dos conteúdos leccionados nas aulas, ou seja, o sistema de ensino não tem respondido aos projectos de vida dos estudantes. Também é de destacar a influência das atitudes do próprio professor, figura de autoridade no contexto escolar. De facto, o ambiente existente na sala de aula é altamente condicionante da motivação e consequente rendimento escolar do aluno. Desta forma, o professor representa um agente influente para melhorar o rendimento escolar dos estudantes, quer em termos de organização da sala de aula, quer em termos da relação que este desenvolve com os seus alunos.

Por último, no que toca ao papel desempenhado pelo mercado de trabalho no abandono escolar e na desqualificação da população portuguesa, importa realçar desde já o predomínio de baixo nível de exigências em termos de qualificação. De facto, o nosso país, quando comparado com a Alemanha ou ainda o Japão, tem apostado numa baixa qualificação e, consequentemente, numa economia de baixos salários. Destaca-se então um erro notável uma vez que este não parece ser o rumo certo para o êxito e o desenvolvimento do nosso país em geral e da qualidade de vida dos seus habitantes em partilcular. Este factor associado ao carácter consumista da nossa sociedade impulsiona os jovens portugueses a abandonar as salas de aula, a favor de um ingresso precoce no mundo do trabalho.


Soluções para combater o abandono escolar?

A saída antecipada dos jovens do sistema de ensino é muito negativa e implica graves consequências por se tratar de uma saída desqualificada!! É uma multidão de jovens que abandona a escola, atraída pelo mercado laboral, chegando aos postos de trabalho sem qualquer qualificação profissional. Trata-se de um factor de pobreza de competências, de saberes, de saber-fazer e de escolhas. Deve-se então combater urgentemente esta situação. Relembra-se que a qualificação de um jovem é fundamental para o seu crescimento pessoal, para a sua auto-estima e dignidade, mas também para o desenvolvimento da sua região e do seu país. Constituindo o abandono escolar e a desqualificação da nossa população activa um obstáculo ao crescimento económico, ao aumento da produtividade e da competitividade do nosso país, importa reflectir sobre soluções para combater esta situação.

Do meu ver, devem ser efectuadas grandes mudanças em cada uma das dimensões supramencionadas. Em primeiro lugar, parece imprescindível investir num maior apoio emocional aos alunos, quer por parte do núcleo familiar, quer por parte das escolas, abrangendo professores e psicólogos. É necessário dotar os alunos de uma maior auto-confiança, motivação e perseverança apesar dos possíveis insucessos académicos, tendo em conta que um baixo rendimento escolar e baixas expectativas dos pais têm sido fortemente associados à atitude de desistência dos alunos. Um maior envolvimento dos pais na vida académica dos filhos (assistir a reuniões de encarregados de educação por exemplo) poderia contribuir para o aumento da motivação dos educandos. A solução para esta questão também se relaciona com mudanças de carácter económico, mais precisamente no que diz respeito às exigências do mercado de trabalho. Sendo a mão-de-obra desqualificada um entrave para o aumento da competitividade, da eficácia e da produtividade, parece relevante considerar o investimento na alta especialização constituindo um elemento chave para o nosso país aumentar a sua competitividade, nomeadamente permitindo avanços tecnológicos e ainda um aumento da qualidade dos nossos produtos.

Por outro lado, também devem ser incutidas mudanças no próprio sistema de ensino, dado que este carrega uma certa responsabilidade pela falta de motivação e interesse do aluno no investimento académico. Desta forma, seria pertinente promover alterações nos conteúdos leccionados nas aulas, como por exemplo conteúdos actuais mais susceptíveis de oferecer resposta aos projectos de vida e às ambições dos jovens estudantes. A promoção de actividades extra-curriculares poderia também constituir uma alternativa ao desinteresse dos alunos pela escola, bem como investir em cursos profissionalmente qualificantes. No ensino básico, as ofertas desta natureza são muito reduzidas, concentrando-se nos alunos com idade superior a 15 anos.

Evoluções notáveis nos últimos anos

Apesar do quadro negro aqui traçado sobre a escolaridade e qualificação dos jovens portugueses, importa conferir um certo realce à evolução positiva que o nosso país tem conhecido, nomeadamente através da iniciativa das Novas Oportunidades. De facto, em 2001 registavam-se taxas de analfabetismo consideravelmente superiores aos dias de hoje, sendo que em 2001 a nossa população contava com uma taxa de analfabetismo de 9%, bem como apenas 35,1% possuíam o primeiro ciclo do ensino básico. Contudo, foi possível verificar uma evolução notável no ano de 2008, contando a nossa população com uma taxa de alfabetização de 94,9! Em 1980, Portugal contava com 87 256 matrículas no ensino superior e, em 2004 com 373 891. Portugal tem conhecido uma evolução notável no número de matriculados em estudos superiores, em todas as categorias, principalmente em doutoramentos e mestrados! Parece então fundamental uma intervenção focalizada e continuada na luta contra o abandono escolar, sendo um caminho imprescindível para promover o crescimento do nosso país e uma sociedade plenamente desenvolvida em todas as suas dimensões.

Andréa Da Costa

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